O mercado português valoriza drasticamente mais o chico-espertismo, o facilitador, do que o mérito, o talento, a competência.
Tal explica as enormes dificuldades e entraves provocadas por quem tem cargos de poder, de chefia, que ganha especial expressão em lugares de função pública.
O resultado é um país pobre, pobre na riqueza, pobre na meritocracia. Um país em que quem quer concretizar algo procura de imediato um facilitador, disponibilizando-se a esse pagar qualquer preço, ao invés de se fazer rodear de profissionais competentes, que, evidentemente, são inclusive vistos como um empecilho e, não poucas vezes, mal pagos.
O universo da construção e imobiliário é disso uma evidência, com projectos de processos infindáveis nas secretárias dos gabinetes de Câmaras Municipais e entidades competentes que se pronunciam por tudo e por nada, pedidos de serviços simples, desde a ligação de água a electricidade, sem tempo definido. Mas, não só. São muitos os amigos e amigas, talentosos, que vejo, ano após ano, à procura de pequenas migalhas para continuarem a exercer a sua profissão e fazer face às suas despesas básicas, sem perspectiva de progressão, nem de legítimo enriquecimento.
Um mal endémico que nos atrasa, nos faz desistir de fazer, de construir, em suma, de avançar enquanto colectivo.
Dez meses de pandemia já foram suficientes para nos provar que tudo permanecerá igual, ou, como ouvia esta tarde a Carmo Afonso defender, ficar ainda pior.
O pé português “no fundo do mar”, que Jorge Palma eternizou, lá permanecerá, consolidado por tanta gente afogada na sua mediocridade.